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Rui d’Orey
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O ano 2020 é definido pela pandemia do CoronaVirus COVID-19. A sua chegada de forma manifesta à Europa no mês de Fevereiro, transformou os hábitos de vida, as rotinas, o trabalho, a forma de socialização e tudo o mais nas nossas vidas e nas nossas sociedades. O distanciamento social, o confinamento, o tele-trabalho, o uso de máscara e as reuniões "virtuais" instalaram-se numa revolução inesperada.

Em termos económicos o mundo conheceu uma contração da actividade, com brutal incidência no 2º trimestre, numa escala sem precedente. Os governos foram chamados a intervir para tentar mitigar os efeitos com medidas como o apoio ao lay-off, moratórias de crédito, reforço da despesa na saúde, etc.

Ao nível do mercado de shipping global podemos definir três fases bem distintas durante o ano 2020:

Primeiro momento – Até JUN 2020

Segundo momento – JUL 2020 até AGO 2020

Terceiro momento – SET 2020 em diante

Resultado da forte procura e de todos os constrangimentos verificados no terceiro momento os fretes começaram a subir em flecha tendo atingido níveis record em certos mercados como sejam o Ásia -> Europa e o Ásia -> USA. Por outro lado, a utilização em pleno da capacidade – a frota imobilizada, que atingiu um pico no 2º trimestre, recuou para mínimos desde o final do ano – provocou o crescimento acelerado do valor do time-charter dos navios iniciando o contágio do aumento de fretes aos demais mercados.

No comércio marítimo mundial, de acordo com os dados mais recentes da IHS Markit, o comércio de bens transacionáveis decresceu 13,5% em 2020 para USD 16,382 triliões (milhões de milhões). Em termos de volume, o comércio global contraiu 11,2% em 2020 para 12,7 biliões (milhares de milhões) de toneladas métricas, prevendo-se que haja uma recuperação de 7,5% em 2021 e de 4,1% em 2022. Por sua vez, o comércio marítimo, que domina os vários modos de transporte com uma quota de 87%, registou uma queda de 13% em 2020, prevendo-se uma recuperação de 7,4% em 2021 e de 4,8% em 2022.

Em 2021, o congestionamento portuário, quer nos próprios terminais, quer na logística em terra, tornou-se no principal constrangimento. À entrada do último trimestre a frota imobilizada ao largo de portos como Los Angeles, sudeste asiático, e até na Europa e costa leste dos USA, atingia cerca de 12% da capacidade mundial. O equivalente a retirar do mercado o número três ou quatro mundiais.

2021 fica também caracterizado por encomendas record de novos navios. Na véspera da pandemia os armadores estavam relutantes em fazer construir novos navios, quer devido à situação do mercado de fretes, quer devido à incerteza sobre que combustível iria dominar a propulsão no futuro.

A pandemia acelerou muito, na agenda mundial, o tema da descarbonização. O shipping, percebendo esta dinâmica, reagiu e elegeu o LNG (Gás natural liquefeito) como combustível de transição até que seja claro qual é a tecnologia que ganhará a aposta do amanhã – bio-combustíveis?, hidrogénio?, metanol?, amoníaco?, electricidade?.

Na hora de perspectivar o futuro mais próximo, em termos de como poderão evoluir os fretes, há que ter em consideração:

Muito do que acima se expôs diz respeito ao mercado dos fretes e navios de contentores. O mercado dos restantes navios de carga seca também foi indirectamente influenciado e o seu comportamento seguiu um curso parecido. Mas há mercados do shipping, como seja o dos graneis líquidos, ou o do transporte de automóveis, que não tiveram a mesma evolução e que sofreram e sofrem os resultados da pandemia.

O shipping é um sector muito dinâmico e cíclico. A disrupção actual não tem precedente, mas a "normalização" é inevitável. Ainda vai levar algum tempo...



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