As empresas nacionais e globais continuam a revelar uma acentuada dificuldade em encontrar os perfis que procuram, levando a escassez de talento a atingir novamente níveis recorde. De acordo com o Global Talent Shortage Survey 2025, realizado pelo ManpowerGroup, a escassez de talento em Portugal voltou a acentuar-se e atinge agora os 84%, depois de em 2023 ter concedido um ligeiro alívio, ao situar-se nos 81%. Portugal ocupa, assim, a 3ª posição entre os países com maior escassez de profissionais, superando a média global de 74%. Apenas a Alemanha e a Israel registam valores superiores, a fixarem-se nos 86% e 85%, respetivamente.
"A transformação digital, os novos modelos de negócio e a transição verde têm vindo a modificar, há já alguns anos, o panorama das competências mais procuradas no mercado, algo que a crescente adoção da IA veio ainda acentuar. Infelizmente, o ciclo de renovação de competências dos trabalhadores não é tão acelerado e, mesmo que estejamos a observar algum alívio na procura, associado à instabilidade geopolítica e económica mundial, a escassez de talento em Portugal agravou-se." começa por explicar Rui Teixeira, Country Manager do ManpowerGroup Portugal. "Face a este cenário, as empresas estão a confirmar a sua aposta em estratégias inovadoras, que lhes permitam construir esse talento com programas de reskilling e upskilling, bem como atender às prioridades fundamentais dos trabalhadores em termos de retribuição, mas também mais flexibilidade e autonomia.", conclui.
As empresas continuam a procurar ativamente perfis com as competências necessárias para promover o seu crescimento, concretizar a transformação digital e assegurar o talento que lhes permita executar essas estratégias. Neste sentido, as funções mais procuradas e difíceis de contratar correspondem a competências de Vendas e Marketing (23%), IT e Data (22%) e Recursos Humanos (21%). Seguem-se as funções de Engenharia e de Operações e Logística, referidas por 21% e 20% dos empregadores, respetivamente.
Analisando a evolução face ao ano anterior, a procura mantém-se acentuada em 4 das 5 competências mais procuradas, com a exceção das áreas de Relação com o Cliente e Atendimento, que este ano descem para a 6ª posição, sendo referidas por 15% dos empregadores. Apesar disso, a procura por profissionais de IT & Data abranda em 4 pontos percentuais, enquanto que as skills de Vendas e Marketing vêm a escassez de talento aumentar em 2 pontos percentuais. Este ano acentuou-se igualmente a dificuldade no acesso ao talento nas áreas de Recursos Humanos, traduzindo o foco das empresas na atração destes profissionais, capazes de gerir as estratégias e desafios de talento num momento de forte disrupção para empresas e trabalhadores.
Na comparação com as competências mais procuradas a nível global, observa-se também um relativo alinhamento nos desafios dos empregadores, embora com um maior foco na procura de profissionais de IT& Data, no caso dos empregadores globais, com 26% a referirem estas funções.
Entre os setores analisados no estudo, o setor da Saúde e Ciências da Vida é o que apresenta uma escassez de talento mais elevada, com 91% das empresas nacionais desta área a revelarem dificuldades na contratação, o que traduz um agravamento de 5 pontos percentuais face a 2024. Neste setor, as competências técnicas mais procuradas concentram-se nas funções de Relação com o Cliente (23%), Operações e Logística (20%) e Funções Administrativas (20%).
Segue-se o setor da Indústria Pesada e Materiais, com 88% dos empregadores a revelar dificuldades na contratação, numa progressão de 4 pontos percentuais comparativamente ao ano passado. Para estes empregadores, os principais desafios no acesso ao talento situam-se ao nível das competências de Engenharia (35%), Indústria e Produção (28%) e Vendas e Marketing (23%).
Já o setor de Bens e Serviços de Consumo registou um valor de 87%, correspondente também a um aumento de 5 pontos percentuais em comparação com o ano anterior. Nesta área, a escassez de talento é especialmente acentuada em competências de Vendas e Marketing (37%), Recursos Humanos (24%) e Operações e Logística (23%).
Ainda acima da fasquia dos 80% de escassez de talento, encontra-se o setor dos Transportes, Logística e Automóvel, com 85%, e em forte evolução, de 11 pontos percentuais, face a 2024, bem como o setor de Finanças e Imobiliário, onde as dificuldades de contratação são referidas por 81% dos empregadores. Já no setor de Energia & Utilities, a escassez de talento situa-te precisamente nesse patamar, com 4 em cada 5 empregadores a declarar desafios no acesso às competências.
Finalmente, com valores de 77% e 76%, respetivamente, encontram-se os setores dos Serviços de Comunicação e Tecnologias de Informação (TI), ambos com uma redução de 4 pontos percentuais face a 2024. A este nível os empregadores nacionais revelam um menor alinhamento com o comportamento do resto dos países, já que, a nível global, as TI são o terceiro setor com maior escassez de talento.
Todas as categorias de dimensão de empresa analisadas afirmam ter dificuldades em contratar o talento necessário em 2025. As Grandes Empresas com mais de 5.000 colaboradores e as Médias Empresas são as que enfrentam maiores desafios, com valores nos 87% e 86%, respetivamente.
A nível regional, os empregadores da Região Centro e da Grande Lisboa são os que têm mais dificuldades na contratação de profissionais, com valores de 87% e 86%. Segue-se a Região Sul, a fixar-se nos 84%, e o Grande Porto, com uma escassez de talento correspondente a 82%. Por último, 80% dos empregadores da Região Norte revelam sentir também dificuldades na contratação de profissionais.
Face às atuais dificuldades de contratação, os empregadores estão a adaptar as suas estratégias para se alinharem com as preferências de candidatos e trabalhadores, e reforçarem a sua capacidade de atrair e reter talento.
A oferta de programas de upskilling e reskilling destaca-se como a principal prioridade dos empregadores, sendo referida por 31% dos inquiridos. Esta estratégia permite às empresas construir o talento de que necessitam, mediante a capacitação e o desenvolvimento das competências de trabalhadores e candidatos
Os aumentos salariais, apontados por 27% das empresas, surgem também no topo das estratégias, como resposta à inflação e ao impacto no poder de compra. Além disso, 18% dos empregadores referem que estão a investir numa maior flexibilidade de horários, enquanto que 16% referem a aposta na flexibilidade relativamente ao local de trabalho. A exploração de novas bases de talento é também uma abordagem cada vez mais relevante, sendo mencionada por 18% dos empregadores. Estas são estratégias alinhadas com aquelas adotadas em anos anteriores.
O estudo do ManpowerGroup entrevistou mais de 40.413 empregadores em 42 países e territórios. Os resultados completos do Talent Shortage Survey podem ser consultados aqui.